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domingo, 21 de novembro de 2010

INTERLAGOS: "O TEMPLO" II

O grande Tony Seabra, (tirando sua Carteira de Piloto  na Escola de Pilotagem Interlagos, http://www.escolapilotageminterlagos.com.br/), fez um comentário tão interessante  e tão extenso rs, que resolvi transformalo num post.
Obrigado futuro Campeão.


O que sobrou hoje daquilo que nós ainda chamamos de Templo, é um circuito que pode até ser bom quando levamos em consideração as porcarias asiáticas que permeiam F1 atual, mas que é um circuito quase que monótono, se comparado com o original. A beleza natural ainda está lá, a aura e a mística ainda estão lá (que o diga o amigo Ceregatti), mas de fato, o que ainda temos em Interlagos?


A freada do S do Senna é técnica e difícil, porem o contorno da curva não é favorável aos ases, mas sim aos pilotos ditos técnicos: acerte a entrada, acelere no ponto certo e vamos nós. Pelo amor de Deus, não deixe escorregar senão você fica sem posição pra segunda perna. Não é uma curva onde se ganha tempo, mas sim um local onde você deve cuidar de não perder tempo...Daí vem o contorno da segunda metade do Sol, ao contrario, acelerando. Uma inversão do conceito da curva original, onde se entrava "chutado" e a coisa apertava no fim, obrigando a uma escorregada longa e digna dos nomes que ali melhor se expressaram (Moco, Emerson, Bird, Luisinho, Cyro, Bino, entre eles, e favor não esquecer do Ronnie Peterson, que eu igualmente aprendi a admirar justo ali !!!). Então, o que acontece hoje??? Nada !!! Pelo menos de carro de turismo, você sai lento do S do Senna, aponta o carro, acelera, acelera, e deixa ir que nada acontece, é só manter o traçado. E a emoção ??? Esquece.

O Retão virou retinha, a Curva do Lago, agora em descida, foi transformada em duas, que você faz como se fosse uma curva de dupla tangencia. A freada é legal, a primeira perna é legal, e exigente, faz a “barata” querer ir embora, mas pra segunda perna é só virar o volante e deixar ir, porque a primeira "perna" fez com que a velocidade ficasse baixa demais pra segunda. Não se esqueça de que nesse trecho você está andando ao contrario do que o desenho da pista previa.... Acho que se tivessem mantido o desenho antigo, seria uma curva mais de alta e muito mais adequada a quem tem braço.

Até aqui já se perdeu a parte mais interessante do circuito antigo.

O Laranja, que era uma curva sem graça, ficou até mais interessante como Laranjinha: é uma curva de entrada cega, obriga a desacelerar e você sai escorregando na parte final, quando já é hora de preparar a tomada do antigo “S”. O “esse” sempre foi uma curva de baixa enjoada, que leva ao Pinheirinho, e essa sim, apesar de lenta é gostosa, joga o carro pra fora da metade pro fim. O Bico de Pato cobra um traçado bem feito na tomada, exige na freada, mas é uma curva de contorno monótono, do tipo, tomara que o Mergulho chegue logo, pras coisas voltarem a ter graça. Apesar de ser uma curva em aceleração, o Mergulho é gostoso, e embala rápido até a Junção, hoje mais uma curva de baixa num autódromo onde só sobraram....curvas de baixa !!!! A Junção nova nem se compara com a velha, mas ainda é gostosa de fazer. Porem, você sai lento e aí, tome subida pela frente. Daí dá saudade de casa, vontade de deitar na espreguiçadeira pra esperar passar a entrada dos boxes, onde a velocidade já começa a empolgar de novo...Imagino que com a Junçao antiga fosse diferente, você saia mais quente e provavelmente , subiria muito mais rápido, conseqüentemente, chegava no final da reta dos boxes (hoje um pseudo Retão) com o carro muito mais cheio.

Apesar da minha idade (56) nunca guiei no traçado antigo. Mas, pelo que eu vi de fora, pelo que eu vejo hoje do “escombros” daquele traçado, só me resta imaginar o quanto devia ser gostoso guiar ali.

Atualmente, do traçado antigo só sobrou a parte de baixa velocidade, e as poucas curvas mais velozes que foram aproveitadas transformaram-se em curvas de baixa também. Virou um circuito técnico, onde acerto fala mais do que braço, onde cabeça tem mais valor do que a habilidade pura.

Pior de tudo, as construções feitas no paddock e na área dos boxes, que detonaram de vez o antigo traçado, roubaram uma boa parte da visão da pista para quem está nas arquibancadas. Essas obras de “melhoria” do circuito, foram no seu todo, a mais completa HERESIA cometida contra os velhos ídolos do automobilismo brasileiro, que afiaram suas garras para enfrentar o mundo nas curvas alucinantes do antigo autódromo.

O amigo Comendattore Claudio Ceregatti, o único a quem é dado o sublime direito de conversar com as almas dos antigos pilotos que por ali passeiam, e com as corujas que ali residem, é o único que pode nos contar o que eles pensam e sentem diante da mutilação do verdadeiro Templo.

O mais triste , afinal, é constatar que será quase impossível recuperar o velho traçado: não existe espaço para áreas de escape nas curvas 1 e 2, e o trecho onde ficavam a Ferradura, o Sol e o Sargento foram completamente mutilados. Mas com certeza daria para aproveitar parte do antigo Retão, da curva 3 e da curva 4, adicionando um bela quantidade de grana a doses cavalares de criatividade e respeito pelo verdadeiro automobilismo, para retomar um pouco da qualidade e do charme do antigo Interlagos. Existem propostas interessantes a esse respeito no site: http://interlagosantigo.blogspot.com/

Antonio, concordo totalmente.
Um abraço.